Goleiros dentro e fora do padrão – Parte 2

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Por uniformes mais uniformes, mesmo para os goleiros

Depois da quebra de padrão do Émerson Leão, vamos a quem pede o contrário. O site “Museum of Jerseys” defende em uma série de artigos diferentes um conceito interessante: o uso de uniformes de goleiro que mantenham alguma relação com o uniforme dos jogadores de linha. E digo que eles fazem isso numa série de artigos porque não existe um explicitamente reunindo a ideia, mas eles sempre fazem isso quando a oportunidade aparece. Inclusive, isso dá uma mostra de várias interpretações do conceito, como veremos a seguir.

– Opção 1: manter o mesmo desenho

Aqui foi dado o Manchester United de 2009-10 como exemplo, temporada em que os uniformes do clube tinham um “V” no peito ao estilo Velez Sarsfield (padrão chamado na Inglaterra de “chevron“). E exatamente o mesmo padrão aparecia nas camisas de goleiros.

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Outro exemplo foi o bem menos conhecido Port Vale, time da terceira divisão inglesa, que na temporada atual criou inclusive um padrão simétrico entre camisas um, dois e três de linha e de goleiro: as camisas um têm o padrão geométrico aparente, as camisas dois são lisas e as camisas três têm o padrão geométrico em marca d’água.

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Claro que o Port Vale pode ser obrigado a mesclar os jogos de uniformes a depender da cor da camisa do adversário. Exemplo: se o adversário jogar de amarelo, os jogadores de linha usam a camisa um e o goleiro a dois ou três.

– Opção 2: fazer uma referência às cores

No mesmo artigo em que fala do Port Vale, o Museum of Jerseys lembra de um padrão adotado pela Umbro em 2001-02. Naquele ano, as camisas de goleiro da marca inglesa adotavam um padrão em que, independentemente da cor principal (com o preto sendo muito usado), os detalhes eram na cor principal da equipe.

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Acima, na ordem estão Celtic, Chelsea, Inglaterra e Irlanda. Uma maneira simples e engenhosa de integrar o uniforme do goleiro aos jogadores de linha.

– Opção 3: manter o mesmo desenho e fazer referência às cores

Para finalizar, o site tem um artigo sobre o fato de que a Copa de 1998 foi prolífica em camisas de goleiro que combinavam com as de jogadores de linha. Algumas se enquadram mais na opção 1 (Japão), outros na 2 (casos de Argentina e Itália), mas três exemplos uniam as opções 1 e 2 e mais: a cor principal da camisa de goleiro tinha a ver com a equipe, não era algo que ficava limitado aos detalhes. Abaixo, Inglaterra e Holanda.

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Já o outro exemplo é justamente o Brasil, com a icônica camisa verde e amarelo do Taffarel que, tal qual a Holanda acima, era quase um “negativo” da camisa principal dos jogadores de linha.

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Não à toa, essa é justamente a minha camisa de goleiro da seleção favorita de todos os tempos.

Quem fazia isso muito bem, também, diga-se, era o São Paulo com as camisas do Rogério Ceni que remetiam à camisa principal do clube (mas com fundo preto ou vermelho). Outro exemplo bacana foram algumas camisas do Vasco da época do Fernando Prass, que tinham a faixa diagonal tradicionalíssima no clube e, ao invés das cores preto e branco, usavam as cores de Portugal: não são as cores do clube, mas tem uma clara identificação com a história do mesmo.

Obs.: Claro que toda equipe precisa de ao menos duas camisas de goleiro, caso o adversário tenha uma cor parecida, o que impede que toda camisa de goleiro seja no modelo da opção 3 (uma hora, você fica sem opção de cores oficiais do time). No caso do Brasil em 1998, por exemplo, havia uma camisa laranja com detalhes amarelos no mesmo modelo da verde: ou seja, mesmo trazendo uma cor estranha, ainda havia um padrão visual de modelo: ou seja, ainda era uma união da opção (modelo igual) e da opção 2 (detalhes na cor principal do time, amarelo), só não tinha o extra da cor principal ter essa relação.

– Lindo, mas não vai rolar muito

Quando bem feito, olha como o goleiro fica completamente integrado visualmente com o restante do time, sem comprometer sua diferenciação visual.

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brasil-1998

Porém, esse é o tipo de coisa cada vez mais longe de acontecer, em uma época que camisas de goleiro são cada vez mesmo personalizadas, usando o template das marcas, além do fato que nos últimos anos nem as próprias camisas um e dois de linha têm uma unidade visual.


Crédito das imagens: todas as ilustrações de uniforme acima são do Museum of Jerseys.


– ATUALIZAÇÃO: ainda há esperança, pero no mucho

Claro que nem tudo está perdido, e há uma marca ou outra (ou um clube ou outro) que ainda tenta fazer algo personalizado para os goleiros. A sequência de uniformes da Umbro entre 2014 e 2016, por exemplo, é muito legal.

No Vasco, em 2014, além de repetir o já citado uniforme “Portugal”, todos tinham a faixa transversal e cores representativas do clube ou do atleta (azul e branco era por conta do Uruguai, país de Martín Silva, então goleiro e ídolo vascaíno).

Em 2015, sai a faixa, mas entra um elemento representativo à Cruz de Cristo, outro símbolo do clube (e o amarelo é cor tradicional dos goleiros da Colina).

No Grêmio, em 2015, todos os uniformes eram “tricolores”, tais como os jogadores de linha, usando tons de cinza, preto e azul, também cores do clube.

Já em 2016, o padrão visual que saía por trás do escudo do clube remete à sua bandeira. E a cor marrom, diga-se, está presente no primeiro uniforme da história do Grêmio.

Finalizando esta série de admiração pelo trabalho da Umbro com goleiros da época, as camisas do Cruzeiro de 2016 também trabalhavam com cores e formato de uniformes de goleiros tradicionais da história do clube.

E para mudar um pouco de marca, as camisas de goleiro da Kappa para o Vasco de 2022 resgataram cores históricas do clube, além do fato de, até então, só os goleiros já terem usado o escudo completo na camisa.

Mas aqui vale uma ressalva: nos trabalhos apresentados até aqui, embora eles tenham cuidado por parte do design para respeitar as histórias dos clubes, as camisas não tinham relação com os uniformes dos jogadores de linha (à exceção do primeiro exemplo cada de Vasco e Grêmio).

Quem fez isso com maestria nos últimos anos foi, novamente, o Vasco. Desta vez, seja com a Diadora ou com a Kappa, nos últimos três lançamentos de camisas três, vinha junto uma ou duas camisas de goleiro completamente integrada com o visual dos jogadores de linha.

Só um modelo de camisa em cada foto acime é de jogador de linha, com as demais sendo de goleiro.

Obs.: Parabéns ao Vasco, de longe o time dos últimos vinte anos que mais se dedica a uniformes de goleiros. Passando por várias marcas (Penalty, Umbro, Diadora, Kappa), mostra que isso é do clube. O resultado a gente pode até julgar bonito (as de 2022 são lindas) ou feio (a “uruguaia”, não curto), mas sempre tem um carinho na criação.


Do outro lado, porém, temos muito a lamentar.

Na Copa do Mundo de 2022, porém, virou até pauta do Footy Headlines que todas as camisas de goleiro da Nike eram modelos “padrão” de catálogo, exceto a do Brasil pelo simples detalhe de ter ao menos a marca d’água de oncinha nela, tal qual os jogadores de linha.

Sua grande rival, Adidas, também não ficou pra trás e lançou um modelo único para todos os seus clubes no Brasil em 2022. E chegou ao cúmulo de lançá-las na mesma cor base, laranja, para os rivais Atlético e Cruzeiro. Mesmo o tom sendo levemente diferente, é claro que as torcidas não perdoaram.

E teria como culpá-las? Claro que não. Com uma preguiça dessas, tem mais é que ser criticado mesmo.