Camisas de grandes marcas

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O curioso caso das camisas com design de logos gigantes

As marcas de fornecedores foram entrando aos poucos na camisa de futebol. No começo, discretas. Depois vieram marcas de patrocinadores e a coisa foi crescendo até chegar a um ponto onde saiu do controle na década de 1990. Conheça na sequência um pouco dessa história.

 

Não estamos falando disso

Há casos extremamente bizarros, recentemente, de camisas cujo design não é de uniforme de futebol, e sim de um completo anúncio para o patrocinador (como a camisa cachorro-quente) ou mesmo uma brincadeira (como o traje de gala). Não estamos falando disso aqui, mas se quiser conferir outros exemplos medonhos, clique no link aqui.

 

Estamos falando disso

Na virada da década de 1980 para a de 1990, algumas marcas de fornecedores de camisa conseguiram espertamente incorporar os seus logos de maneira gigante. E, embora tenha havido questionamentos do bom gosto de uma propaganda tão grande em si, ainda assim os logos apareciam como elemento tolerável de design.

A mestre do fenômeno com certeza foi a Adidas. Começando com menções mais discretas como a camisa da Colômbia na Copa de 1990 (três grandes listras coloridas, porém coladas – ao contrário do logotipo), a menção gigante às três listras da marca só foi ficando mais evidente na década, culminando em 1995 com o horroroso uniforme da seleção feminina da Austrália, onde as listras gigantes não só cruzavam a camisa inteira como continuavam no calção.

 

Mas peraí, isso não pode, Reebok

Mas se quem mais usou e abusou desse fenômeno foi a Adidas, a Reebok ganha de lavada o prêmio de cara de pau. Enquanto a Adidas se aproveitava apenas da imagem de três grandes listras (que não eram exatamente iguais às do logo), a Reebok não se fez de rogada: ao entrar no futebol, criou um padrão de uniformes que consistia em aplicar cores em um grande logotipo da empresa que ia de ombro a ombro.

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Rússia nas eliminatórias (1993) e na Copa (1994).

Como já mostramos antes (link aqui), a Fifa tem um regulamento muito detalhado sobre uniformes em Copa do Mundo, inclusive determinando tamanho máximo de logo dos fornecedores. O que a Reebok fez ia contra esses regulamentos.

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Chile nas eliminatórias (1997) e na Copa (1998).

Se para a Rússia, na Copa de 1994, ela se saiu com um novo modelo, na Copa de 1998 ela se valeu do improviso para alterar a camisa do Chile, que havia virado um ícone no país: retirou apenas dois traços do desenho do logotipo e pronto, estava dentro do regulamento.

Fonte: En Una Baldosa

 

Por que a Adidas foi mestre

A Adidas fez algo que pouquíssimas marcas em qualquer setor do mundo conseguiram: associou a sua imagem a um elemento de design extremamente simples, três listras. Então qualquer coisa que contenha três listras paralelas, é “sinônimo” de Adidas.

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Precisa de algo mais?

Isso conferiu à empresa a possibilidade de fazer todos esses layouts ousados da década de 1990 sem ferir nenhum regulamento. Afinal, “eram só três listras, não o logotipo da Adidas”.

Camisas mais clássicas? Impossível.

Mas as três listras são um elemento tão básico, que essa genialidade da empresa vem de muito antes, em camisas que muito mais discretas e que são verdadeiramente clássicas. Estamos falando, é claro, do padrão mundialmente usado e reconhecido das três listras finas nos ombros.

Simples, discreto, de extremo bom gosto. E ainda assim, uma “marca” da Adidas.

 

Moda que vai, moda que volta

Se a Adidas conseguia se enquadrar no regulamento, ela não enganava ninguém: suas camisas da década de 1990 eram grandes propagandas da empresa. Por isso, elas começaram a ser questionadas quase que ao mesmo tempo em que a tendência de camisas extravagantes começava a perder espaço para designs mais simples.

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Mas, como você sabe, a moda é cíclica. E a década de 1990 passou a ser referência justamente para a Adidas na última Copa. Então, as grandes listras voltaram a surgir. Com mais discrição, é verdade, mas ainda assim sem enganar ninguém do que de fato elas significam.

Outro fato digno de nota é que o resultado em campo pode fazer toda a diferença para consagrar uma camisa: bom gosto ou não, as camisas da Adidas de Colômbia, Bulgária e Romênia, além da camisa Reebok do Chile viraram clássicos pelo excelente resultado para esses países em campo.

 

Mais discrição, menos identificação

Outras marcas tentaram seguir o padrão das três listras discretas da Adidas. Umas sem tanta força no mercado (o padrão em setas da Hummel), outras sem tanto bom gosto (como a série de logotipos da Kappa) e outras sem tanta insistência (como as barras de manga da Umbro: muito bonitas, mas raramente usadas).

 


 

Curiosidade: a Adidas tentou registrar o uso das três listras… e perdeu

Este ano, após um longo processo, a Adidas perdeu julgamento em tribunal europeu no qual tentou registrar para si o uso de “três listras de largura igual paralelas e equidistantes em qualquer direção”. O tribunal considera que não há prova de que isso configure associação indiscutível com a marca, o que pode ser interpretado como “você está tentando patentear um elemento simples demais”.

Mas vale lembrar que nem todos têm o bom senso desse tribunal. Em 2012, um tribunal nos EUA condenou a Samsung a indenizar a Apple por plagiar celulares retangulares com cantos arredondados. A resposta da empresa coreana: “Isso é ridículo, a Apple não tem direitos sobre desenhos geométricos.”

Fontes: ABC | O Globo