O time que renegou sua camisa um

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Camisa tricolor de 2012 em uma de suas raras aparições.

Quando o Fluminense pediu para o roupeiro esconder a tricolor

“Sou tricolor de coração…” Seja você Fluminense ou não, é impossível que você não conheça esse verso imortalizado pelo hino do clube, do imortal Lamartine Babo. Mas no quarto título brasileiro do clube, o de 2012, seria mais correto cantar “sou bicolor de coração”. O Fluminense escondeu o verde naquele ano ao tirar sua camisa tricolor de campo, revezando apenas entre as peças todas brancas ou todas grenás. Confira o porquê dessa curiosidade na sequência.

 

Desculpas e mais desculpas…

Que a camisa tricolor saiu de campo, isso ninguém do Fluminense escondeu. Até porque o levantamento abaixo feito pelo Globo Esporte não deixa nenhuma dúvida (observação: eu atualizei a imagem com os dados dos últimos três jogos do Flu na temporada, que foram feitos após a matéria, todos eles de camisa branca).

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Imagem do GE com edição (atualização com os números finais do campeonato).

Como as trocas de camisas no Brasil não se dão no meio da temporada, note que o Fluminense fez a primeira partida do campeonato com a tricolor da temporada anterior.

Mas se ninguém no clube negou o fato, como deram desculpas para o motivo. O patrocinador disse que a camisa tricolor daquele ano não dava visibilidade para a marca, o que é facilmente contestável ao se comparar com as camisas do ano anterior: a caixa branca em torno do nome Unimed garantia a mesma visibilidade de sempre (e que voltaria na temporada seguinte).

Outros, alegaram que foi superstição, pois a camisa não dava bons resultados. Mas se analisarmos em que rodadas a camisa tricolor foi usada, dá para ver que ela começou a ser colocada de lado antes de qualquer resultado que justificasse a alegação.

  • Rodada 2: empate
  • Rodada 4: empate
  • Rodada 13: empate
  • Rodada 25: derrota

As camisas que efetivamente viraram 1 e 2 do Flu em 2012.

Todos os jogos foram em casa, ok. Mas após apenas dois empates, a camisa já sumiu por nove rodadas. Depois de outro empate, sumiu por mais 12. Algo aconteceu muito no começo da temporada para ela ter sido tirado de cena, e não foram meros dois empates.

Por fim, a última desculpa do clube é a que menos se sustenta: essa camisa tricolor não seria a camisa um da temporada, e sim a camisa quatro. Ora, então qual era a camisa um? Se for a tricolor da temporada anterior, por que ela sumiu justamente quando a nova tricolor foi lançada? E se a um era a branca, sério que o Fluminense teria rebaixado tanto assim sua camisa mais tradicional?

 

A hipótese mais plausível

Claro que sem confirmação de fontes oficiais, eu não tenho a resposta definitiva. Mas a resposta mais plausível é uma bem curiosa: a camisa era feia.

Que marcas de material esportivos convivem constantemente com críticas de qualquer torcida a cada lançamento, isso é um fato. Uns reclamam que mudaram demais a tradição do clube, outros reclamam que ele nunca muda; ou seja, nunca se agrada a todos. Mas a camisa tricolor do Fluminense chegou numa rejeição quase unânime da torcida naquela temporada, porque ela rompeu a tradição e também não agradou quem gosta de inovação.

Demais uniformes do time. Alguém acredita que a tricolor era a camisa quatro?

Em primeiro lugar, o padrão de fato era confuso. As listras grenás eram muito maiores que a demais, enquanto as brancas cresceram e ficaram do tamanho das listras verdes. Esse último ponto criou uma ruptura grande demais no padrão tricolor: o branco, pela primeira vez, era a segunda cor mais aparente do uniforme, e o verde virou detalhe.

Junte isso ao fato que a dois fatos: a camisa tricolor não se encaixa com as demais da coleção, todas muito sóbrias; e as camisas dois (branca) e três (grená) tiveram uma aceitação enorme da torcida. Pronto. Essa rejeição à tricolor é compatível com o fato que ela apareceu em duas das três primeiras rodadas após seu lançamento para depois sumir do armário.

Claro que a Adidas fez um péssimo trabalho nessa camisa, mas a diretoria do Fluminense não pode se isentar de culpa, afinal, toda camisa é aprovada antes de ser lançada.

 

Dois comentários finais:

Mais uma prova de que o Flu fez um improviso para esconder seu uniforme: a camisa toda grená, que na prática virou o uniforme dois do clube na temporada, era da coleção do ano anterior. Tanto que nem o número foi atualizado nela, mantendo o padrão antigo da Adidas.

Uniformes de 2011. Numeração igual à da camisa grená.

Depois, o presidente do Flu, Peter Siemsen à época lembrou que o Fluminense jogou muito de branco durante vários períodos (ele menciona o de 1975/76, por exemplo). Isso é verdade, o Flu já rotacionou muito suas camisas, podendo ser argumentado que a branca era a um em determinados períodos. Mas a tricolor sempre esteve presente, jamais tendo a desonra de ser taxada de “camisa quatro”.

 

Fonte: Globo Esporte
Reprodução dos Uniformes: Erojkit