Diretamente da época do remo
O primeiro uniforme do Flamengo foi azul e amarelo, ainda na época em que o clube se dedicava exclusivamente às regatas. Isso é de conhecimento geral entre estudiosos do futebol brasileiro. O que poucos sabem é que possivelmente já existia um uniforme dois para o clube naquela época.
Confira na sequência como era esse uniforme e como seria uma versão dele atualmente, além de um extra com uniformes do Flamengo caso suas cores nunca tivessem mudado.
O possível uniforme dois do Flamengo em 1895
Quem traz essa curiosidade é o livro “Do Fundo do Baú”, de Laércio Becker. Na página 71, o autor cita Mário Filho para dizer as definições de uniformes do Flamengo já quando da sua fundação.
O primeiro uniforme ficará vago. Assim: camisa de meia de seda — manda-se buscar na França uma azul e ouro, para ver se elas desbotam ou não — boné preto, calça de brim branco, cinto branco e sapatos de lona branca, com sola de borracha preta. Isso tem por aí. O segundo uniforme pode ser de camisa de meia preta com duas âncoras vermelhas, cruzadas, boné preto, cinto branco e calção preto ou calça branca, à vontade.
A camisa amarela e azul do Flamengo de fato desbotaria e o clube passaria a adotar como uniforme um a rubro-negra já em 1896, pois essas cores já faziam parte de sua primeira – e estranha – bandeira: listras amarelas e azuis, mas com o quadrante preto no canto e âncoras vermelhas.
A foto que abre este post mostra os remadores do Flamengo justamente em 1896 e, ao que tudo indica, eles estavam na transição entre as duas camisas um (além de mostrar a total falta de padronização no tamanho das listras, o que era normal à época). Mas o primeiro cidadão em pé à esquerda está com a camisa preta que é listada como uniforme dois do clube na citação de Mário Filho.
Outro ponto interessante da foto é mostrar que na época os remadores não usavam “regatas”: as camisas eram de manga.
Considerando essa descrição, o que vemos na foto e a falta de padronização da época, essas seriam as possibilidades de uniforme um do Flamengo em 1895 (oficial com calça branca e com calça escura adaptada, conforme na foto).
E o primeiro segundo uniforme oficial do Flamengo seria o abaixo (perdão pelo trocadilho, mas não resisti e aviso que vou continuar o usando ao longo do texto).
Segundo o registro de Mário Filho, as calças poderiam ser pretas ou brancas, e a camisa deveria ter duas âncoras cruzadas vermelhas no peito (opção grande e opção pequena). Na foto, porém, o remador de camisa preta parece não ter nela esse detalhe das âncoras. Pode ser por falha da fotografia ou simplesmente pelos atletas ignorarem esse detalhe nada prático em suas roupas.
Para finalizar, os novos uniformes principais a partir da mudança de cores em 1896.
Versões atualizadas desses uniformes
Se o Flamengo nunca tivesse mudado de símbolos na sua história, seu uniforme de fato seria inusitado hoje. Mas, ainda tentando me manter o mais fiel possível, a “camisa Tabajara” do Flamengo em 2010 me torna incapaz de não fazer ao menos um ajuste: adaptar os tons do azul e do amarelo, que são muito berrantes na bandeira de 1895.
Abaixo a “Tabajara” e a bandeira já em tons mais fortes.
Muita gente após essa camisa jura de pé junto que camisa listrada em amarelo e azul não funciona. Conhecendo as belas camisas do Rosario Central (Argentina) e do Fenerbahçe (Turquia), sei que é o tom do Flamengo que torna tudo pior.
Feito esse ajuste, eis duas combinações básicas de uniformes do Fla que remetem diretamente a 1895.
No peito, usei uma versão difundida como primeiro escudo do Flamengo. Ele tem justamente as duas âncoras vermelhas cruzadas, então casa bem com a descrição.
Com a mudança de 1896 na camisa um, mas pensando que o uniforme dois do Flamengo nunca tivesse mudado, eis as combinações criadas.
Passa longe de ser uma boa combinação por só contar com camisas muito escuras.
– E se o escudo e camisa dois tivessem evoluído, mas as cores originais não
Na segunda parte desse exercício, pensei em quatro caminhos para os quais o escudo do Flamengo poderia ter seguido, que basicamente são as combinações de duas variáveis no quadrante:
- Monograma CRF ou âncoras cruzadas?
- Cores rubro-negras ou aurianis?
Confesso que até para um flamenguista essa combinação azul, amarelo, preto e vermelho (ainda com cordinha branca), tudo junto num mesmo símbolo, dói a vista. Mas bora aos uniformes, de toda forma.
Acima, versão mais fiel possível ao original. Como no uniforme um o Flamengo em geral usa só o monograma, quis manter essa alusão a um “símbolo simplificado” usando só as âncoras. Mas para manter a cor e ainda ser visível, tive que envelopá-las num formato idêntico ao escudo.
Na versão com o monograma, mas com as cores fiéis ao original, tive a mesma questão anterior para aplicar o CRF na camisa um (e usei a mesma solução). Ah, aproveito para registrar que até aqui usei o calção dois preto, que como cor neutra ajuda a equilibrar tudo (inclusive o fato dos escudos serem rubro-negros).
Eliminando as cores vermelho e preto do escudo, tudo fica mais fácil (e também harmônico). Acima, usando só as âncoras na camisa um, nem foi preciso protegê-las de nenhuma forma. Sem preto no escudo, o calção passa a ser azul.
E, encerrando esta parte, a versão mais modernizada do escudo, mas mantendo as cores azul e amarelo como base.
– Resgatando o primeiro segundo uniforme
Para finalizar, caso o registro de Mário Filho realmente seja correto, fica aí a ideia de que reutilizar a base dessa camisa preta esquecida poderia dar um caldo para um terceiro uniforme do Flamengo.
Numa época em que cada ano eles aparecem numa cor diferente, muitas das quais não tem nenhum lastro histórico, até que seria uma boa. Eu preferiria o uniforme acima a um uniforme cinza e “verde marca-texto”, que nem mesmo o departamento de marketing perdeu tempo tentando explicar o motivo.
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